sexta-feira, 8 de junho de 2012


Ética, Energia e Consumo Sustentável
20 de Outubro de 2003.
Publicad
o por Equipe Eco Viagem
Por Domingos Bernardi Neto

Todo e qualquer produto que consumimos gasta energia. Energia para produção – desde sua origem, transporte, acondicionamento, embalagem, divulgação etc, e até mesmo nosso próprio deslocamento para adquiri-lo.
Aliás, temos de acumular energia – pelo nosso trabalho –o que trocamos por dinheiro para podermos consumir.
Desta maneira, constantemente acumulamos e consumimos energia ainda que indireta – pelo consumo. Quem porventura acumular mais energia, terá mais capacidade para gastar, ou seja, estará potencialmente e oportunamente apto a usar a energia acumulada. A aptidão expõe a decisão para o consumo.
Países desenvolvidos vêm provando um aumento calórico substancial em sua faixa etária mais jovem de população. Talvez pela ansiedade dirigida ao consumo e aos apelos publicitários constantes promovidos pelos meios de comunicação.
A energia move-se pela matéria e a matéria circula pela ação da energia. A Terra recebe uma quantia relativamente fixa de energia proveniente do Sol e esta energia seria supostamente a bagagem que deveríamos carregar em nossa viagem.
A política atual da maioria dos países prega a redução do consumo de energia, principalmente a derivada da queima de combustíveis fósseis. Combustíveis fósseis representam energia acumulada durante milhões de anos pelo planeta e que são na verdade um excedente calórico para todos os sistemas vivos. Reduzir seu uso significa equilibrar nossas necessidades com o que se recebe externamente.
No entanto, este exemplo não encontra amparo na política dos países hegemônicos. Estes consomem segundo dados do WRI 20% a mais do que o planeta pode acumular. Um dos efeitos desse excesso é o efeito estufa. Consumo sustentável implica, portanto, conceder à Terra uma chance de equilíbrio, reduzindo ou otimizando o gasto com a energia compatível de sua produção ou capacidade de absorção.
Compatibilizar o consumo com o gasto de energia depende dos recursos disponíveis – recursos naturais e tecnológicos – e de sua sociabilização. Não podemos interferir ou esgotar os recursos naturais comuns tais como a água ou nossa condição climática de bem estar, o que nos levaria a uma competição intraespecífica. Daí a necessidade de compatibilizar nosso consumo com o meio ambiente.
Da mesma forma, se trocamos nossos bens e serviços por dinheiro e este representa energia, temos de contabilizar nossa interferência no meio quando pensarmos no preço justo pelo nosso trabalho.
O século XX foi marcado como o século da expansão e consolidação do capitalismo, enquanto regime político-econômico predominante no mundo. Com a rápida troca de informações via web iniciou-se a globalização. Tanto o avanço político, quanto o avanço técno-cultural decorrente foram movidos, entre outras, por duas aspirações humanas permanentes: o conforto e a liberdade.
Conforto e liberdade implicaram numa expansão no uso de recursos naturais, uma vez difundidos os padrões ocidentais de consumo, atingindo diretamente os principais Biomas terrestres, enquanto ilhas sintrópicas, no que se refere aos insumos e externalidades humanas.
O uso de recursos naturais e o consumo estão intrinsecamente ligados, pela exploração intensa, devido à rapidez das descobertas oriundas da tecnologia e da ciência, aliadas à informação.
Nesse contexto, o consumo desenfreado nos países desenvolvidos (padrões de consumo no mundo desenvolvido) e em desenvolvimento gera a busca desmedida aos recursos naturais causando degradação e pobreza, devido ao imediatismo econômico e à fragilidade das relações de trabalho, agora globalizadas.
Por outro lado, a partir da década de 70 (Conferência de Estocolmo 1972), ficou marcada internacionalmente a tomada de consciência ambiental pela sociedade que, por sua vez, pressionou as empresas para o reconhecimento de sua responsabilidade com o tipo e intensidade de interferência sobre o meio ambiente, forçando a busca por
alternativas de gestão de caráter ambiental que pudessem minimizar impactos negativos.Reconheceu-se também, neste processo, a importância da Biodiversidade, enquanto reserva estratégica da humanidade.
A busca por tecnologias “ambientalmente corretas” e “economicamente viáveis” têm ocorrido de maneira crescente, tornando-se meta gerencial das empresas. Com a sociedade cada vez mais preocupada e interessada nas questões ambientais, o passo seguinte foi a adoção de mecanismos que pudessem dar a garantia ao consumidor que seus produtos, e os processos envolvidos na sua manufatura, levavam em conta as questões ambientais e sociais.
O aumento da consciência ambiental que se assiste nos últimos anos tem sido acompanhado por efeitos nos mercados consumidores de produtos e serviços. Estes efeitos têm, com freqüência, se apresentado na direção de
uma crescente demanda por informação, da parte dos consumidores, sobre os aspectos ambientais envolvidos nas suas decisões de consumo, ou seja, a decisão de compra o consumidor é influenciada por considerações
ambientais, o que expõe a responsabilidade social das empresas.
Atualmente, a responsabilidade social das empresas é tema de discussões e investimentos. No entanto, questões ambientais envolvem fatores ecológicos, econômicos e principalmente sociais. Condições econômicas, ecológicas e sociais favoráveis constituem a base fundamental para a sustentabilidade. Os princípios e
critérios que norteiam a decisão das empresas na aquisição e manufatura de produtos deve levar em conta não apenas as conseqüências do processo industrial, mas também todo o ciclo de vida desses produtos.
E o consumidor? Qual o papel desempenhado pelo principal interessado nas questões ambientais? Qual a relação entre sua escolha e o processo de degradação do ambiente?
Consumir nem sempre é uma decisão unitária, pois os meios de propaganda induzem o consumidor ao ato impensado quase sob alienação. Hoje as pessoas viajam para as todas as partes do globo ao simples toque de
alguns botões, e, não sabem sequer o que acontece com sua vizinhança quanto mais com o ambiente, este sim a cada dia mais fragmentado e alterado.
Convém, entretanto uma reflexão, pois o momento é propício a concepção do que seria um verdadeiro consumo sustentável, ou melhor, um consumo pró-ativo. Queremos o fim das intenções para a guerra - em tese: queremos que os países desenvolvidos reduzam seus padrões de consumo - por diversos motivos desde o efeito estufa ao disseminar dos transgênicos da dependência. Melhor opção talvez seja mostrarmos como reduzir o consumo.
Podemos iniciar abastecendo nossos automóveis apenas com empresas que tenham algum comprometimento ético em relação ao ambiente, até que automóveis movidos a ar comprimido invadam nossas concessionárias.
Enquanto isso podemos escolher marcas de automóveis cujas montadoras tenham também uma postura ética não só em relação a guerra ou seja, não demonstrem a vontade de exaurir os estoques de petróleo para destiná-lo à atmosfera e é claro as marcas provenientes de alguns países industrializados não seriam nossas marcas escolhidas.
Poderíamos pensar com mais critério na redução proposital de consumo dos diversos produtos que detendo um determinado padrão de consumo e que forneça royalties a grande indústria esbanjadora de energia para que esta reduza seu consumo reduzindo assim também as emissões de gás carbônico na atmosfera.
Todo o ciclo produtivo que depende do nosso consumo seria pensado globalmente para que houvesse contenção e reparação de danos ambientais por países consumistas. A tática proposta não tiraria empregos locais, pois a concorrência seria estimulada - conforme o mesmo pensamento que tem sido pregado insistentemente.
Da mesma maneira poderíamos incentivar o verdadeiro consumo sustentável consumindo produtos de nossa região e regiões mais próximas que valorizassem os atributos sociais, ecológicos e ambientais para, além de deixarmos de incentivar as emissões de efeito estufa valorizarmos nossos produtos naturais, economizar duplamente energia pagando o custo ambiental embutido pelo menos a pessoas e empresas comprometidas com valores socialmente justos e ecologicamente corretos.
Essa tática não é nova. Ela foi utilizada pela Índia em 1948 para obter sua liberdade junto à Inglaterra. Uma tática pacífica e que efetivamente deu certo. Certamente, após esta experimentação outras táticas visando o controle do desperdício de vidas humanas, dos recursos naturais e da capacidade de desenvolvimento seriam criadas para compensar a ganância dos homens e sua intenção desmedida de poder e riqueza.

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